Este estudo tem por objetivo analisar historicamente o déficit apresentado pelo plano BD Sergus, suas causas e quem as causou. A ideia inicial era fazer um levantamento desde a sua fundação nos anos 80. Como não foi possível apurar todas as informações desde o início, optou-se tomar por base o ano de 1995, pelos seguintes fatores:
No ano de 1995, o Relatório de Atividades do Sergus apresentou um ativo de R$ 38.406.000,00 e as reservas matemáticas da ordem de R$ 44.840.000,00, resultando num déficit acumulado no montante de R$ 7.254.000,00, quando o Corpo Social era de 1762 participantes ativos e 63 assistidos. Para uma melhor compreensão dessa fase de acumulação das reservas matemáticas, o quadro abaixo mostra a composição social do período:
Quadro Social/Anos | 1993 | 1994 | 1995 | 1996 |
Participantes Ativos | 1.784 | 1.474 | 1.752 | 966 |
Participantes Assistidos | 5 | 9 | 63 | 132 |
O quando social apresenta uma redução no ano de 1994 em torno de 20%, com recuperação surpreendente no ano seguinte, e 40% menor em 1996, variação fruto da política de pessoal da Patrocinadora. Na análise de fundo que diz respeito ao déficit do plano, a realidade é ainda mais desastrosa, pois, foi um plano nascido no ano de 1980, com um número reduzido de assistidos até o ano de 1995. Considera-se nesse período de acumulação das reservas matemáticas, com todas as despesas administrativas cobertas pela Patrocinadora, mudanças no Regulamento no ano de 1989 retirando um abono de 20% sobre os benefícios, garantidos aos sócios fundadores e introdução de um redutor de 15% nos benefícios dos assistidos, no entanto, apresenta um déficit acumulado da ordem de R$ 7.254.000,00, representando 16,18% das reservas. Fica bastante evidente que o déficit não é financeiro. Como no ano de 1994 várias alterações foram efetuadas no Regulamento do Plano, dentre elas redução da idade mínima para aposentadoria e revogação do teto. Para que essas alterações fossem realizadas, necessário se fez a destituição de um Conselheiro de forma ilegal e pressão para que os demais pedissem demissão, pois se tratava de Conselheiros com altas funções na Patrocinadora e mudança da Diretoria Executiva. A partir de 1995 a evolução consta da planilha abaixo:
PLANILHADA EVOLUÇÃO DO SUPERÁVIT OU DÉFICIT EM RELAÇÃO AS RESERVAS MATEMÁTICAS:
ANOS | RESERVAS | SUPERÁVIT | DÉFICIT | REL. % | ||
MATEMÁTICAS | EXERCÍCIO | ACUMULADO | EXERCÍCIO | ACUMULADO | RM/S/D | |
1995 | 44.840.000,00 | 7.254.000,00 | 7.254.000,00 | 16,18% | ||
1966 | 55.564.000,00 | 1.465.000,00 | 8.719.000,00 | 2,64% | ||
1997 |
42.385.000,00 |
21.599.000,00 |
12.880.000,00 |
50,96% |
||
1998 |
46.662.000,00 | 11.358.000,00 |
1.522.000,00 |
10.241.000,00 |
3,26% |
|
1999 | 50.658.000,00 | 12.919.000,00 | 24.277.000,00 | 25,50% | ||
2000 | 65.010.000,00 | 13.185.000,00 | 11.092.000,00 | 21.333.000,00 | 17,06% | |
2001 | 72.695.000,00 | 4.643.000,00 | 17.828.000,00 | 6,39% | ||
2002 | 74.802.000,00 | 6.364.000,00 | 24.192.000,00 | 8,51% | ||
2003 | 120.881.000,00 | 20.041.000,00 | 4.151.000,00 | 25.484.000,00 | 3,43% | |
2004 | 141.612.000,00 | 653.000,00 | 20.694.000,00 | 0,46% | ||
2005 | 162.964.000,00 | 11.965.000,00 | 32.659.000,00 | 7,34% | ||
2006 | 199.614.000,00 | 1.302.000,00 | 33.961.000,00 | 0,65% | ||
2007 | 226.851.000,00 | 2.793.000,00 | 36.754.000,00 | 1,23% | ||
2008 | 258.178.000,00 | 26.068.000,00 | 10.686.000,00 | 36.170.000,00 | 4,14% | |
2009 | 310.393.000,00 | 15.170.000,00 | 10.898.000,00 | 47.068.000,00 | 3,51% | |
2010 | 357.161.000,00 | 2.960.000,00 | 12.210.000,00 | 59.278.000,00 | 3,42% | |
2011 | 405.834.000,00 | 2.228.000,00 | 732.000,00 | 60.010.000,00 | 0,18% | |
2012 | 457.746.000,00 | 1.127.000,00 | 1.101.000,00 | 61.111.000,00 | 0,24% | |
2013 | 567.332.000,00 | 83.128.000,00 | 144.239.000,00 | 14,65% | ||
2014 | 569.246.000,00 | 52.950.000,00 | 29.051.000,00 | 9,30% | ||
2015 | 724.909.000,00 | 101.243.000,00 | 245.482.000,00 | 13,97% | ||
ACUMULADO | 115.188.000,00 | 130.294.000,00 | 245.482.000,00 | 245.482.000,00 | 17,97% |
O ano de 1996 apresentou uma rentabilidade real de 17,14% e mesmo assim apresentou déficit da ordem de R$ 1.465.000,00 no exercício e acumulado de R$ 8.719.364,74, reconhecido pela Patrocinadora conforme consta dos Relatórios Informativos. A Patrocinadora mesmo reconhecendo o déficit, após a arrumação do Conselho e Diretoria, decide em reunião conjunta, por sugestão do Presidente da Patrocinadora, solucionar o problema através das alterações necessárias para cobertura do mesmo, e assim foi feito em fevereiro de 1996 conforme registro em ata. Alterações como retorno da idade mínima de 55 anos para homens e mulheres, dentre muitas outras, levaram o plano a se adequar às condições financeiras do momento, apresentando no final de 1997 um superávit de R$ 21.599.345,12, mesmo sendo implementado um programa de realinhamento de funções, resultado este de cálculos atuariais e pareceres jurídicos por ordem do Presidente da Patrocinadora do Presidente da Patrocinadora.O ano de 1998 apresentou um déficit da ordem de R$ 1.522.000,00, representando 3,36% das reservas matemáticas. O ano de 1999 é um ponto fora da curva como ocorrido no ano de 1977, fruto de mudanças ocorridas no regulamento nos anos de 1998 e 1999, muito embora a rentabilidade nesse ano fosse da ordem de 13,58%acima da meta atuarial.
O maior déficit do plano em relação às reservas matemáticas, acorre no ano 2000. Dentre as causas, o provisionamento do Imposto de Renda de anos anteriores da ordem de R$ 4.061.908,16 e o novo plano de realinhamento de funções gerenciais. Nesse ano, a patrocinadora assina contrato com o Sergus assumindo compromisso de dívida referente à revisão de cálculo de benefícios e contribuições patronais, no valor de R$ 1.772.562,48a ser amortizado em 108 prestações mensais. Os anos de 2001 e 2002 o plano apresenta superávit da ordem de 6,39% e 8,51% das reservas matemáticas. No ano seguinte é registrado um déficit da ordem de 3,43%, como nos anteriores não especificando sua origem. O período de 2004 a 2007 o plano apresentou maior equilíbrio de sua história, alcançando o maior superávit acumulado, no valor de R$ 36.754.000,00, representando 16,27% das reservas. Ao contrário do período anterior, de 2008 a 2013 o déficit acumulado foi de R$ 118.755.000 equivalente a 21% das reservas do último ano. Muitos fatores impactantes desse período: a crise mundial de 2008 que refletiu no mercado acionário da bolsa e da Patrocinadora; realinhamento das funções gerenciais no ano de 2009 registrado como o maior deles no mesmo ano; provisionamento das ações judiciais em 2013 e o Plano de Cargos e Salários no ano de 2013.
Em 2014 o plano apresentou um superávit de R$ 52.930.000,00, que contribuiu para redução do acumulado, tendo como causas mais importantes: A redução decorrente da alteração da taxa real de juros nas projeções atuariais de 5% para 5,32%; Redução no provisionamento das ações judiciais; Reavaliação dos imóveis e reversão das reservas contigenciais.
Em 2015 foi apurado um déficit técnico de R$ 101.243.000,00, o que contribuiu para aumento do déficit acumulado nesse exercício de R$ 130.294.000,00. Foram fatores determinantes: aumento das Reservas matemáticas em decorrência da alteração da taxa real de juros nas projeções atuariais de 5,32% para 4,99%; Implementação do PEA – Política de Estímulo a Aposentadoria e reestruturação promovido pelo patrocinador Banese; Provisões contigenciais; Rentabilidade abaixo da meta atuarial; Reversão do déficit técnico a equacionar registrado em 2014.
O estudo em questão, aponta que o déficit técnico histórico do plano Sergus tem como fator predominante a política de Recursos Humanos da Patrocinadora Banese, tábua de mortalidade e ações judiciais dos assistidos.